William Friedkin Vs. Alguns Fanboys Mimizentos

Ao longo de sua existência, desde a primeira exibição dos curtas dos irmãos Lumiérè na França, o cinema mundial seguiu tendencias, sempre se reinventando e seguindo novas e antigas fórmulas, Noir, Nouvelle Vague, thrillers de espionagem, filmes de monstro, etc, etc e etc. Sempre que há um boom de alguma tendência, todos correm para produzir algo pelo menos nos mesmos moldes. Dez anos atrás quantos filmes em 3D eram lançados nos cinemas? Eram pouquíssimas as produções e as que tinham eram do porte de Pequenos Espiões 3D: Game Over e o igualmente caricato As Aventuras de Sharkboy e Lava-Girl 3D. Sim, naquele os filmes tinham de ter 3D em seu título. Mas o 3D é algo antigo e não recente como muitos pensam. Filmes das franquias Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo e Tubarão já tiveram lançamentos no formato. Entretanto a primeira produção no formato 3D é ainda mais antiga, pois foi o filme estadunidense The Power of Love de 1922. Com Avatar, em 2009, o formato virou praticamente padrão em Hollywood e desde então os principais blockbuster são lançados em 3D. Atualmente no mercado externo o formato tem cada vez mais perdido adeptos, apesar de em alguns mercados específicos - como o Brasil, por exemplo - ainda há uma grande busca pelo mesmo. Fiz este "arrudeio" todo para demonstrar que a industria cinematográfica tende a seguir as tendências. Não sei se fui claro o suficiente. O que atrai o público em determinado período é produzido em massa até que haja uma saturação. Quando esta saturação ocorre há uma estagnação seguida de uma queda constante até que se alcance o nível mais baixo possível até sair do mercado. Esta estagnação pode ser sazonal ou não. Em algum momento os filmes em 3D vão deixar de ser produzidos até que haja um novo levante de adeptos e novas produções surjam ressuscitando o formato. Por enquanto ele ainda não chegou ao nível de estagnação, mas vai chegar lá um dia. Porém quero deixar claro ao fim deste parágrafo, mais precisamente ainda ao final desta frase, que este artigo não é sobre o formato 3D e sua eventual saturação mercadológica e sim sobre uma outra coisa.

Então pra quê diabos enrolar tanto? Calma que eu já vou chegar ao ponto que interessa. Escrevo este artigo porque atualmente o grande hype que existe é em torno de filmes adaptados de histórias em quadrinhos, mais especificamente em quadrinhos de super-heróis. Este ano já tivemos Vingadores: Era de Ultron e nos próximos meses teremos ainda Homem-Formiga e Quarteto Fantástico. Se este ano três dos principais lançamentos são adaptações de super-heróis, o ano que vem promete ser ainda maior pois teremos os filmes Deadpool, Batman Vs Superman: A Origem da Justiça, Capitão América: Guerra Civil, X-Men: Apocalypse, Gambit, Dr. Estranho e Esquadrão Suicida. Ou seja, Marvel Studios/Disney, Fox e Warner Bros. investindo pesado. O mercado cinematográfico tem cada vez mais explorado o universo dos quadrinhos em suas produções. Todo estúdio quer ao máximo explorar os heróis que tiverem os direitos de adaptação. E não é só nas telonas, mas nas telinhas também, afinal temos vários seriados como Demolidor, Arrow, The Flash, Constantine (foi cancelado este ano, mas até bem pouco tempo tava sendo exibido), Agents of S.H.I.E.L.D., Agent Carter, GothamSupergirl e várias outras que estão sendo desenvolvidas atualmente (AKA Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro, Os Defensores, Legends of Tomorrow e Preacher) . Ou seja, os super-heróis estão dominando o mercado em todos os setores que são possíveis. A futura saturação é inevitável, ainda assim estúdios tem filmes programados até para 2020. Será que o hype dura até lá? Esta é uma questão que somente o tempo dirá. Contudo, muitas pessoas já saturaram e se quer suportam ver mais filmes de super-heróis lotando salas de cinema no mundo todo. É o caso da pessoa que me inspirou a escrever este artigo que você tão pacientemente está lendo agora, meu caro leitor. E o seu nome é William Friedkin.

Friedkin é um oscarizado cineasta norte-americano que fez muito sucesso nos anos 70 com os filmes Operação França, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Diretor, e O Exorcista, clássico do terror pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor. Friedkin também levou dois Globo de Ouro de Melhor Diretor por estes mesmo dois filmes, o primeiro em 1971 e o segundo em 1973. Além destes, Friedkin também é conhecido por dirigir o remake (para televisão) do clássico 12 Homens e Uma Sentença. Seu trabalho mais recente foi um filme de 2011 que dividiu a opinião da crítica, o thriller de ação Killer Joe - Matador de Aluguel com Mathew McConaughey. Pois bem, em recente entrevista concedida ao britânico The Telegraph o cultuado diretor afirmou que os filmes de super-herói estão estragando o cinema e que atualmente os únicos bons trabalhos para diretores estão na TV a cabo e nos canais de streaming em produções como True Detective (da HBO) e House of Cards (da Netflix). Em sua crítica ao mercado atual o diretor disse que "os filmes costumavam ter sua raiz na gravidade. Eram sobre pessoas reais fazendo coisas reais. Hoje o cinema na América é todo sobre Batman, Super-Homem, Homem de Ferro, Vingadores, Jogos Vorazes: tudo o tipo de coisa que eu não tenho interesse algum em ver. (...) Eu não tenho interesse em fazer filmes só pelo pagamento, eu tenho que amar o filme, a história, os personagens. Existem quatro sequências de O Exorcista e eu não vi nenhuma delas, nem quero ou pretendo fazer". Quem se interessar de ler o artigo original do The Telegraph (em inglês) é só clicar aqui.

Como era de se esperar os fãs mais mimizentos da internet se deram ao trabalho de expor suas opiniões limitando-se a criticar o trabalho do diretor e o próprio pelo simples fato de ele não ter a mesma opinião que eles. O problema não é expor a opinião, afinal a liberdade de expressão é um direito humano básico a qual, pelo menos em tese, todos temos direito. Mas daí a abrir suas bocas - ou usar os dedos, já que a maioria desses fanboys preferem expor seus "argumentos" embasados apenas em suas opiniões próprias em diversos fóruns na internet - para dizer que Friedkin é um "velho gagá sem talento" e que "só fez sucesso antigamente" é muita besteira para meus ouvidos - e olhos - suportarem. William Friedkin  tem uma grande importância para a indústria e seus filmes, principalmente O Exorcista, são marcos da produção audiovisual. Quantos filmes de terror foram indicados ao Oscar de Melhor Filme? Apenas um. Adivinha quem o dirigiu. Isso mesmo. Friedkin está acima dessas críticas bobas e sem fundamento. A opinião dele sobre a situação atual da industria cinematográfica é válida e em nada diminui o seu talento. Ele não é o único a estar cansado de filmes do gênero super-herói. E, como argumentei alguns parágrafos acima, a tendência é que um dia estes filmes cheguem a um estado de estagnação até a consequente queda e diminuição/encerramento destas produções. Não digo aqui que concordo com o diretor, afinal basta ler algumas postagens aqui no blog para ver o quanto sou fã de quadrinhos, mas entendo a posição dele e a respeito. Infelizmente a divergência de opiniões ainda é um tabu e uma discussão sobre algo tão simples quanto um gênero de filme acaba se tornando na internet algo maior do que realmente é. Finalizo esta postagem com uma citação de Voltaire, onde o filósofo diz o seguinte: Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo.




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