Homem-Formiga (2015)

Originalmente Homem-Formiga integraria a Fase 1 do Universo Cinematográfico Marvel e por consequência do adiamento do filme quase para a Fase 3 acabou gerando algumas alterações neste Universo que, apesar de bem contornadas, foi alvo de críticas por parte de fãs mais xiitas da Casa das Ideias. Depois de um produção que se estendeu por anos e o afastamento do diretor e principal produtor do filme, Edgar Wright, as vésperas do início das filmagens fez com que muita gente ficasse com o pé atrás em relação ao longa. Afinal era realmente um filme bastante arriscado, visto que o herói não é tão conhecido do grande público e que se trata claramente de um filme de gênero dentro do gênero de super-herói, algo inédito até então. Mas como o selo Marvel de qualidade atesta que você pelo menos vai se divertir durante o filme já é suficiente para muita sair de casa e ir ocupar uma poltrona no cinema. Para azar dos pessimistas e deleite da plateia, a Marvel Studios não decepciona e nos entrega um filme divertido e extremamente engraçado. Me atrevo inclusive a dizer que é o filme mais engraçado da Marvel até agora.  Sendo o décimo-segundo filme da Marvel Studios, já era óbvio que o filme fosse bastante aguardado.

A história começa nos anos 80 quando Hank Pym (Michael Douglas), então um agente/cientista da S.H.I.E.L.D. contesta seus companheiros de equipe, inclusos Peggy Carter (Hayley Atwell) e Howard Stark (John Slattery), por tentarem reproduzir sua tecnologia. Um feito sem  sucesso. Temendo o uso bélico de sua invenção, Hank se desliga da agência de espionagem e funda sua própria empresa de tecnologia, mas mantém como segredo as Partículas Pym e o traje aposentado de Homem-Formiga. Já nos dias atuais Hank se vê afastado de sua empresa por decisão dos acionistas e seu pupilo Darren Cross (Corey Stoll) tentando replicar a sua tecnologia em um novo e poderoso traje intitulado Jaqueta-Amarela, uma versão upgrade do original, para ser comercializado como armamento. Para deter Cross, Hank então busca a ajuda de Scott Lang (Paul Rudd), um ladrão recém-saído da cadeia e que por causa de sua ficha criminal não consegue arrumar emprego. Como consequência de ser ex-presidiário e não ter emprego, Lang não tem como arcar com a pensão de sua filhinha Cassie (Abby Ryder Fortson), que é proibido de ver. Em meio a isso ainda há Hope van Dyne (Evangeline Lilly), filha de Hank Pym que não mantém uma boa relação com o pai por este esconder a verdade sobre a trágica morte de sua mãe Janet Pym, a heroína Vespa, nos anos 80. Hope acha desnecessário o recrutamento de Lang, preferindo ela mesma assumir a missão; coisa que Hank não permite por temer que a filha tenha o mesmo destino de sua mulher. A partir daí a trama segue mostrando o treinamento de Scott pra se tornar um herói e a busca de Darren Cross em conseguir estabilizar a tecnologia desenvolvida por Hank.

Divertidíssimo e ágil, o filme jamais fica cansativo. O roteiro de Edgar Wright reescrito por Joe Cornish, Adam McKay e Paul Rudd é bastante sóbrio e não perde tempo aprofundando em temas mais complexos. É possível perceber a mão de Edgar Wright lá, com um típico humor britânico beirando ao non-sense em vários momentos. A direção de Peyton Reed é bastante competente, mas não tem identidade. Não que isso seja de todo ruim, afinal a Marvel Studios preza por um estilo próprio em seus filmes de modo a manter coeso o Universo maior criado para seus heróis, mas as vezes essa limitação acaba sendo brochante por não permitir uma maior liberdade a seus realizadores. Vale lembrar que as desavenças criativas com a Marvel foi o que levou Wright a deixar a direção do longa. Apesar disso ele é creditado como Produtor do filme, o que é bastante justo já que foi ele quem idealizou o projeto quando ainda nem existia a Marvel Studios. O filme faz boas referências aos eventos de Vingadores: Era de Ultron, apesar de não terem importância para a trama, e ainda brinca com a existência de um certo herói escalador de paredes. 

A força maior do filme está em seu elenco, que é muito bom e a química entre eles funciona de modo orgânico, considerando o núcleo Pym/Lang, com destaques para Paul Rudd e Michael Peña. Paul Rudd tem um timing cômico muito bom e está perfeito no papel, de modo que não consigo imaginar outro sendo Scott Lang. Peña não tem tanto destaque mas as cenas de seu Luis são de longe as mais engraçadas do filme. Evangeline Lilly é competente e apesar de algumas cenas que tem uma maior carga dramática, a personagem acaba ficando apagada junto de Paul Rudd e Michael Douglas. E por falar em Michael Douglas, é incrível como o ator veterano consegue puxar para si a atenção. Ele convence como herói aposentado e como mentor, tanto de Cross quanto de Lang, e ele consegue mostrar todo o peso sentido pelo personagem em sua conturbada relação com a filha e o trauma pela perda de Janet. Já o vilão é caricato e suas motivações nunca ficam realmente claras. A falta de desenvolvimento do vilão acabam por transforma-lo em apenas mais um antagonista genérico e esquecível, o que tem sido padrão nos filmes do estúdio. Pior que pegaram um bom ator para subaproveita-lo no papel.

A fotografia é competente e o escurecimento naturalmente causado pelos óculos 3D não prejudicam em nada a apreciação das cenas. Já que citei o 3D, este é mais um caso onde o uso da tecnologia é praticamente dispensável na maior parte do filme, mas há uma cena de pouco menos de dois minutos lá pelo final do filme que me fez valer o ingresso mais caro. Apesar de breve é muito interessante assisti-la no formato. Não posso entrar em maiores detalhes para não dar spoilers, mas tem a ver com encolhimento. Os efeitos especiais do filme são excelentes! A cena em que Michael Douglas é rejuvenescido digitalmente é tão bem feita que parece natural e é muito melhor do que o trabalho recentemente produzido no novo Exterminador do Futuro. A heroína Vespa é mostrada em ação durante um flashback e apesar de ser feita totalmente em CGI a personagem parece bastante real. E, claro, as cenas de encolhimento são muito bem produzidas. A forma como o filme brinca e explora as escalas de tamanho são as melhores desde o clássico Querida, Encolhi as Crianças. Com destaque para o primeiro encolhimento de Scott e as incursões pelo formigueiro. E as formigas, as grandes aliadas do herói, são muito bem aproveitadas na trama. É interessante ver a variedade de espécies e a função de cada uma no desenvolvimento de acordo com suas características.

As cenas de ação são boas e as cenas de luta são bem coreografadas e elaboradas, em especial a cena em que o herói-título enfrenta um outro herói já estabelecido. Eu gostei bastante do modo como o cenário e os objetos que o compõem são aproveitados em tais cenas. Apesar disso, o filme não tem nenhuma cena de ação memorável. A direção de arte e o som são fantásticos e a trilha sonora casa bem com as cenas. O mesmo vale para as músicas que fazem parte da narrativa, algo que já tinha sido até melhor utilizado em Guardiões da Galáxia.

Encerrando decentemente a Fase 2 de seu Universo Cinematográfico iniciado em 2008, Homem-Formiga fez bonito em sua estreia nos cinemas. Apesar do título do filme ser o nome do herói, não é o que podemos chamar de um filme solo. É um filme de equipe e não deixa a desejar para nenhuma outra. O filme empolga, diverte e agrada o grande público, digo isso com base na reação não apenas minha mas a de todos que estavam na mesma sala que eu. Houve inclusive aplausos geral em pelo menos duas cenas do filme. Agora nos resta aguardar o seu retorno, como a própria Marvel nos garante durante os créditos. E parece que o povo está aprendendo finalmente a aguardar as cenas pós-créditos, que neste filme são duas e ambas muito boas. No final, apesar de suas falhas, Homem-Formiga é um filme acima da média e bem melhor do que pensei que fosse. Vale a pena conferir, então vá ver no cinema sem medo.



Comentários

  1. E eu com preguiça de procurar sinopses e críticas na internet com medo de achar tudo estrambólico e /ou algo que me desmotivasse a não querer assistir.

    Rot, foi a primeira vez que li algo no teu blogue e gostei. Achei completo.

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    Respostas
    1. Obrigado Lay! Fico feliz que tenha gostado e sinta-se a vontade para visitar-nos sempre que quiser. rs E pode ir ver o filme de boa porque ele vale o ingresso. :)

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  2. Eu estou louca pra ver esse filme, todos disseram que foi um dos melhores já feitos pela Marvel. Espero que não me decepcione.

    Abraços, http://estrofes.wordpress.com

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