Malditos Spoilers

Dando continuidade aos temas polêmicos e desta vez mais polêmicos que mamilos, ta na hora de falarmos sobre spoilers. E quem é que nunca deu um spoiler sem querer? E um proposital? Eu já dei vários em vários momentos. Ameaçar de dar spoiler também é muito divertido. Lembro até de ter lido uma notícia, não sei se era verídica, de um professor que para ter atenção dos alunos ameaçava dar spoilers de Game of Thrones. As vezes até me arrisco a dar alguns falsos também, só de zoação. Mas, afinal, o que é um spoiler? Do verbo inglês to spoil, literalmente estragar, o spoiler ocorre quando a pessoa recebe por parte de outra a informação sobre o desenvolvimento de algo e a antecipação do conhecimento acaba por estragar a surpresa da descoberta e o prazer que tal descoberta implicaria, sendo neste caso um prazer positivo ou negativo, e pode ser aplicado a filmes, games, livros, quadrinhos, séries de TV e sobre uma infinidade mais de coisas. Spoilers são chatos e muitas vezes incomodam ou até mesmo irritam. Já pensou se você não tivesse começado a assistir Game of Thrones e toda vez chegasse um fulano dizendo que tal personagem que você gosta iria morrer de tal jeito em tal lugar? Isso deve ter acontecido com muita gente que acompanha a série da HBO. Mas até que ponto o spoiler é prejudicial? Pode ser considerado spoiler uma cena de um filme ou livro antigo? No Brasil há uma cultura do spoiler? E o que fazer quando o spoiler é inevitável? 

Spoilers são realmente bem inconvenientes e geram boas discussões em diversos fóruns na internet. Há que fuja, mas também há quem busque e goste deles. Conheço diversas pessoas que até mesmo pedem por spoilers. Acho que se sentem mais confortáveis já sabendo de algo que poderia choca-los ou mesmo ajuda a ficarem mais ansiosos por chegar naquela parte em que aquilo vai acontecer. Mas esta não é a função dos trailers? De certo modo é. E é por isso que tenho evitado alguns. Por exemplo, para assistir Mad Max: Estrada da Fúria eu fugi de todo teaser, trailer, spot e demais materiais de divulgação. Nem o poster do filme eu queria ver. Com relação ao poster eu falhei miseravelmente. Pode até parecer exagero, mas não me arrependo porque a grandiosidade e a insanidade do filme como um todo fizeram valer a pena. O mais difícil de evitar foi quando passou o trailer do filme durante a pré-estreia de Vingadores: Era de Ultron. Graças a Deus deu tempo de fechar os meus olhos e tapar os ouvidos. E por falar em Vingadores, quem não concorda que os trailers mostraram demais do filme? Uma boa parte da tão aguardada luta Hulk Vs. Hulkbuster já tinha sido exibida durante os trailers e spots lançados, nas semanas que antecediam a estréia do filme. E assim perdemos o que seria uma grata surpresa. Eu que tinha assistido apenas aos dois primeiros trailers do filme não me importei tanto, mas teve muito mimimi por aí por causa disso. Trailers, em minha opinião, devem apresentar o filme e vender a sua ideia, mas sem revelar muita coisa. E isso Star Wars VII: O Despertar da Força está fazendo muito bem. O trailer mostrou os personagens novos, alguns clássicos, cenas de ação com direito a perseguições e naves voando dentro de destroços de outras naves e foi tudo tão lindo ao som da musica de John Williams. O trailer conseguiu a proeza de me fazer chorar, foi realmente tudo muito emocionante. E o melhor de tudo é que não revelou nada da trama.

Diferente de uma outra franquia que está chegando para o seu quinto filme e no trailer do quarto filme já revelava de cara o plot twist da trama. E parece que essa franquia não aprendeu e já no trailer de Exterminador do Futuro: Gênesis já temos outro plot revelado e não bastasse isso ainda terminaram de lascar tudo inserindo o spoiler no poster do filme. Mas, poxa, teria sido tão melhor ter descoberto no cinema vendo o filme e não o trailer dele no cinema. Infelizmente foi o que me aconteceu. Outro caso envolve um filme nacional, mas esse foi pra gringa mesmo. No trailer internacional de Tropa de Elite 2 mostrava como o Nascimento escapava do atentado contra a sua vida que ocorre no começo do filme e leva ao flashback que narra a trama para concluir no final a cena de abertura. Felizmente neste caso eu já tinha visto o filme.

É bem verdade que alguns casos não há como evitar o spoiler, tipo quando o nome do filme é o próprio spoiler. Vide os casos de filmes como A Hora do Pesadelo VI: O Pesadelo Final - A Morte de Freddy, A Morte do Incrível Hulk, Supernova: O Dia Em Que a Terra Pegou Fogo e O Homem Que Matou o Fascínora, mas o pior de todos foi sem dúvidas o de um faroeste estrelado por Brad Pitt chamado O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford. Pois é, como se não bastasse saber que o personagem-título vivido por Pitt morre o título inventa de entregar também o nome do assassino. Isso é meio que frustrante, apesar de ser um bom filme. Sei que o importante nestes casos não é o que ocorre, mas como ocorre e as circunstâncias que levam o fato a ocorrer e até que da pra relevar e se divertir. Alguns spoilers também são inevitáveis devido a cena ser já antológica e aqui vou citar novamente Star Wars. Neste caso é com o Episódio V - O Império Contra-Ataca, o segundo filme da franquia e que é uma das melhores continuações da história do cinema. Neste filme é onde rola o plot twist mais famoso de todos. Luke Skywalker enfrenta o maligno Darth Vader, o assassino de seu pai, e durante a luta Luke tem sua mão decepada e perde o sabre de luz. O herói então busca se afastar o quanto pode do vilão que tenta convence-lo a unir-se a ele. Luke diz que Darth Vader matou o seu pai e então vem aquela frase que é a mais famosa da franquia, mais famosa até que a icônica "que a força esteja com você", pois Vader diz aquelas cinco palavras que já foram tão parodiadas, homenageadas e reinventadas desde que foram ditas naquele longínquo ano de 1980. Acho que de tão famosa nem é mais spoiler. Qual é? O filme tem 35 anos já, se você não assistiu vai tomar spoiler agora. Darth Vader diz "No. I am your father". A surpresa pra quem viu na época deve ter sido algo sem igual.

Outros spoilers marcantes são a morte da personagem Aerith no jogo Final Fantasy VII. Quem esperava por aquilo? Ou até mesmo, antes desse, a morte do protagonista Chrono no jogo de SNES Chrono Trigger. E quando o spoiler é literário? E quando é um personagem do livro que da o spoiler? Machado de Assis, o mais importante escritor da literatura brasileira, já começa Memórias Póstumas de Brás Cubas com o defunto-narrador narrando a sua morte para só depois contar a sua história de modo linear. Mas neste caso o próprio título do livro já nos dizia que ele tava morto, né? Afinal, são "Memórias Póstumas...", é algo que estava já implícito. Outro livro que me trouxe spoilers durante o decorrer da trama é A Menina Que Roubava Livros onde a Morte, que é a narradora da história, nos diz algumas centenas de páginas antes que um determinado personagem morre. Este tipo, eu até curto porque aguça mesmo a curiosidade do leitor. O que lasca com tudo é quando ocorre o mesmo que no lançamento do sexto livro do Harry Potter e o pessoal aguardava na fila ansiosos pelo livro um carinha sem noção folheia o seu exemplar pro final, lê um trecho e grita "Snape kills Dumbledore". É complicado. Não sei como que o cabra não foi linchado naquele dia. Se fosse no Brasil...

...nem ia ser algo tão polêmico, afinal já vivemos uma cultura onde spoilear (gostou da conjugação?) é algo que o povo já está condicionado a fazer. E não digo isso por causa dos trolls da internet, ou mesmo de um período anterior, que vão te dizer que o Bruce Willis estava morto desde o começo em O Sexto Sentido, que o Leonardo DiCaprio morre congelado no final de Titanic, que o Kevin Spacey é o Keyser Söze em Os Suspeitos e que o Edward Norton e o Brad Pitt (de novo?) são a mesma pessoa no Clube da Luta. Mas me refiro ao pessoal que acompanha novela. Esse pessoal gosta de tomar spoiler. Já notou que nas bancas de revista, filas de supermercado e jornaleiros sempre tem aquelas revistinhas ridículas que contam no domingo tudo o que vai acontecer na novela durante o período de segunda-feira até o sábado? Pior que esse tipo de revista vende bastante. Minha mãe mesmo comprava antigamente, principalmente quando tava se aproximando do final da novela. Eu perguntava por que e ela dizia que era pra saber o final. Mas se ela queria saber o final não era simplesmente mais fácil ela assistir o final da novela? E lembro que na época da escola as meninas da minha sala compravam também essas revistas pra ler. Ou seja, gostam de tomar spoiler. Esse tipo de pessoa não merece ser privado de spoiler e, na verdade, nem quer ser privado. Vai dizer que você não conhece pelo menos uma pessoa que quando assiste um filme contigo fica te perguntando o que é que vai acontecer e, em alguns casos, pergunta até o final? Pior que acabam não gostando quando você não diz e nem adianta argumentar que é a primeira vez que você está vendo porque a pessoa vai insistir que ainda assim você sabe como termina. São coisas que eu juro que não entendo. 

P.S. Ainda tem o Sean Bean, que é um spoiler ambulante.