Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015)

14 anos após o último filme da franquia ser lançado chega aos cinemas Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros. Com produção de Steven Spielberg e direção de Colin Treverrow o filme veio pra revitalizar a franquia. Muito se falou sobre Jurassic Park IV nos últimos anos e eu fui um dos pessimistas em torno da continuação até ter a minha curiosidade despertada pelo trailer lançado no ano passado. O longa é protagonizado por Chris Pratt (de Guardiões da Galáxia) e Bryce Dallas Howard (de Histórias Cruzadas). Mas será que o filme faz juz ao clássico filme de 1993? Ou é apenas mais um caça-níquel lançado pra lucrar em cima de uma marca já consolidada? Para nossa alegria (e da Universal Studios também) é as duas coisas.

Apesar de ser (mais) uma continuação o filme tem uma identidade própria, o que já fica evidente no título do longa. Este filme não é revolucionário e muito menos independe da franquia, sendo que as consequências dos outros filmes é o que transformou o Jurassic Park, agora sob nova administração, no Jurassic World que vemos em tela. Os fãs da franquia, em especial do primeiro filme, vão ficar satisfeito em ver o respeito e as referências, bem como as cenas-homenagens inseridas pelo roteiro. Mas como disse antes, o filme tem identidade própria e o elenco, tanto o principal quanto o de apoio, estão coesos em seus papéis.

Na trama o Parque dos Dinossauros foi adquirido por uma nova companhia que reestrutura as ilhas Sorna e Nublar para pôr o parque em pleno funcionamento. Sucesso de visitações, o parque atrai milhões de pessoas anualmente. Temendo a queda nas visitas os acionistas aprovam a criação de uma nova espécie híbrida. É novamente o homem brincando de Deus, como diria o pessimista Malcolm. O que não contavam era que o novo dinossauro, batizado Indominus Rex, se tornaria um ser inteligente e racional.


O filme começa com uma boa referência a teoria de que os dinossauros evoluíram tornado-se aves e nos apresenta os irmãos Zach (Nick Robinson) e Gray Mitchell (Ty Simpkins) que vão passar uma semana no parque aos cuidados (supostamente) de sua tia Claire Dearing (Bryce Dallas Howard). Enquanto Zach é o irmão mais velho emburrado por ter que acompanhar o irmão Gray é o oposto, empolgado com cada detalhe do parque e seu fascínio pelos dinos é o mais puro possível, sendo ele a representação da criança que somos ante os gigantescos reptéis. A medida que a trama avança a relação entre os dois é bem trabalhada e Zach acaba se tornando alguém por quem torcemos só por causa de sua relação Gray. Claire, que trabalha nos bastidores do parque coordenando as atrações, é o tipo de pessoa que coloca o trabalho a frente de suas relações e por conta do recebimento de novos investidores não pode acompanhar os sobrinhos, colocando-os aos cuidados de uma assistente. Os dinossauros, após vinte anos de sua "desextinção", já não são vistos como algo tão diferente de elefante num zoológico e para garantir o interesse de novos visitantes é desenvolvida uma nova atração: o híbrido Indominus Rex, um dinossauro violento e perigoso feito a partir do DNA combinado de um Tiranosaurus Rex e outras "coisas" mantidas em sigilo.

Somos então apresentados a Owen Brady (Chris Pratt), um ex-fuzileiro naval que trabalha no parque como tratador de dinossauros e tem um relacionamento especial com os temido Velociraptors. Pratt está muito a vontade no papel e mostra que se sai bem em outros gêneros que não comédia. O carisma do ator consegue, desde sua primeira cena, cativar o expectador, mas não se consegue temer pelo personagem visto o quão bad ass ele é.  Owen é auxiliado por Barry (Omar Sy de Intocáveis), um outro tratador que compartilha a visão dele sobre os dinos, mas que tem pouco tempo em tela e é praticamente dispensável para o desenvolvimento do longa, de modo que suas cenas poderiam ser cortadas sem afetar em nada o filme. Como ele mesmo afirma a relação é baseada em respeito mútuo, onde Owen parece domar as feras. Em meio a isso surgem ainda Irrfan Khan como Simon Masrani, novo proprietário do parque. Masrani tem muito da empolgação genuína de John Hammond e compramos a ideia de que ele quer realmente proporcionar a diversão que os dinos podem nos garantir. Claro que ele é o típico empresário bilionário que manda em tudo, mas de certa forma ele é um tanto ingênuo em relação a administração de Jurassic World. Em meio a essa quantidade de personagens surge ainda o caricato Vic Hoskins, interpretado pelo sempre competente Vincent D'Onofrio, que surge aqui como o estereotipado homem ganancioso que almeja utilizar os Velociraptors como uma arma biológica com a qual possa lucrar e que vai se aproveitar de todo e qualquer incidente ocorrido para se beneficiar. O personagem acaba sendo apenas mas um "vilão" genérico e antipático. D'Onofrio faz o que pode para desenvolver o personagem e sua atuação é bem condizente, mas o roteiro não permite um melhor desenvolvimento do personagem.

E por falar em roteiro, Jurassic World foi escrito a oito mãos pelo quarteto Rick Jaffa, Amanda Silver, Derek Connolly e Collin Treverrow. O roteiro como um todo não teme abusar do elemento fantástico que é o mundo da franquia Jurassic Park, por mais pé no chão que se tente ser, e presta boas homenagens ao filme de 1993, como a releitura de algumas cenas e até mesmo um momento em que os personagens visitam um lugar abandonado que foi o local de uma cena importante do primeiro longa. Mas o roteiro peca em algumas passagens, abusando da conveniência de algumas cenas. Vide por exemplo a cena onde encontram em perfeitas condições um veículo abandonado a vinte anos e acham praticamente no lixo uma bateria que se mantém carregada desde o mesmo período e assim colocam o veículo, que está incrivelmente limpo e conservado mesmo com o abandono de duas décadas, para funcionar. E claro, o combustível ta lá também. Dinossauros incrivelmente velozes não conseguirem alcançar uma pessoa correndo a pé numa distancia razoavelmente próxima e outras cenas mais que incomodam o expectador mais exigente, mas que funciona perfeitamente para um público menos crítico e que aceita de boa a conveniência de tais cenas. Outra coisa que da meio que uma vergonha alheia são algumas frases bem cafonas ao longo do filme. Aí fico pensando, alguma pessoa se deu ao trabalho de pelo menos revisar o roteiro? Os produtores realmente leram isso. Acho que não.

A trama se desenvolve a partir da fuga do inteligente Indominus Rex da área de contenção e sua jornada pela ilha em direção aos visitantes enquanto mata o maior número possível de pessoas e dinossauros pelo caminho. Enquanto nos outros filmes tudo era uma questão de sobrevivência, este é mais um filme de resgate e, posteriormente, de caça. A química entre Bryce Dallas Howard e Chris Pratt é bastante funcional e os dois convencem como o casal improvável. Owen Brady, como ele mesmo afirma, é o macho alfa da história, mas a Claire Dearing de Bryce Dallas Howard não é uma mulher frágil e necessitada de ser resgatada como a princípio se imagina. Ela é uma personagem forte e que dispensa ser salva. Os dois acabam se completando de modo bastante divertido. Mas o grande acerto do roteiro é a empatia criada com os dinossauros apresentados. É incrível como nos importamos mais com a morte de alguns dinossauros do que com as pessoas. Em alguns casos até torcemos e vibramos com mortes humanas, mas os dinos são bastante sentidos, arrancando até mesmo lágrimas sinceras de algumas pessoas.

Os efeitos visuais do filme, apesar de bonitos, abusam do uso de CGI o que acaba, em algumas cenas, tornando muito plástico o visual de alguns dinossauros. O Mosassaurus, Velociraptor, Tiranosaurus Rex e, é claro, o Indominus Rex estão muito bem desenvolvidos, mas os Brachiosaurus, Stegosaurus, Triceratops e os demais dinos secundários da trama acabam por ficar muito artificiais. Ospoucos momentos em que são usados animatrônicos no filme são os visualmente melhores, o que me faz recordar o primeiro filme onde o uso de animatrônicos e CGI eram bem dosados, dando a impressão de ser até mesmo melhor realizados. O uso do 3D é usado para gerar profundidade em algumas cenas mas é praticamente desnecessário para o desenvolvimento narrativo e pode ser facilmente dispensado. Apesar de ter muitas cenas a noite a fotografia de John Schwartzman não é prejudicada pelo escurecimento causado pelos óculos, o que é bastante válido. A trilha sonora desta vez é do maestro Michael Giacchino usando por base o tema original de John Williams. Giacchino é um dos melhores quando o assunto é trilha sonora, mas tenho de admitir que os melhores momentos desta são quando tocam as notas de Williams. Nesses momentos a nostalgia fala mais alto e as lágrimas chegam a encher os olhos, tornando as cenas, principalmente na sequência final, epicamente emocionantes.

Por falar em final, a sequência final, além de bastante previsível, acaba se prologando um pouco além da conta e por mais empolgante que seja se vê uma grande mudança de tom em relação aos demais filmes da franquia. O exagero presente agradou muita gente na sala de cinema, os aplausos foram prova disso, e eu entendo que em uma era de Vingadores, Mad Max e outros filmes de ação com cenas mirabolantes e lutas que empolgam o público, Collin Treverrow não quis ficar pra trás. Mas no final o que fica é uma sensação positiva pois o filme conseguiu ser uma continuação decente e já figura na lista de melhores do ano de muita gente. Que o futuro nos traga mais dinossauros, porque o Mundo dos Dinossauros é um lugar que eu quero visitar novamente um dia.




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