Alemão (2014)
Com o sucesso mundial de Cidade de Deus, muitos viram no cinema
com temática em favela uma fórmula para conseguir atrair o público. O problema
com a maioria das fitas que seguem por esse caminho não possuem metade do
impacto com o público que teve o filme de Fernando Meirelles. Este ano mais um
filme com essa temática chegou aos cinemas, trata-se de Alemão. O filme dirigido por José Eduardo Belmonte é um thriller policial ambientado momentos
antes da maior operação militar conjunta da nossa história, a tomada e a
pacificação do conjunto de favelas chamado Complexo do Alemão. Na trama cinco
policiais infiltrados têm suas identidades reveladas após um informante, que
levaria os dados para auxiliar na ação da polícia é forçado a abandonar sua
mochila com informações dos policiais, as vésperas da invasão e ficam
refugiados no interior de uma pizzaria enquanto aguardam ser resgatados pela
polícia ou ser mortos pelos bandidos que estão a sua procura.
A relação entre o quinteto
de protagonistas, apesar de mal desenvolvidos individualmente, é o ponto alto
do longa, com destaque para as performances de Gabriel Braga Nunes e Caio Blat.
Destaque também para a performance de Antonio Fagundes que, apesar de curta, é
competente. Em contrapartida a presença de Cauã Reymond, vilão da trama, se
mostra pouco a vontade e não convence ninguém no papel do traficante Playboy, o
dono do morro. Por falar em vilão, os demais traficantes são os tipos mais
estereotipados possíveis e se limitam a aparecer com armas em punho, fazendo
“cara de mal” e gritando palavrões para intimidar.
A abertura do filme
mostrando o cotidiano dos moradores em cenas que parecem amadoras com os
enquadramentos sendo até mal elaborados, mas no decorrer do filme isso é
compensado. A inserção de cenas reais da invasão ao complexo que seriam para
dar maior força ao filme, mostrando-o de uma forma quase documental, servem
apenas para preencher o tempo em tela e os momentos em que são inseridas não
cooperam para o desenvolvimento da trama. As cenas de ação são curtas e quando
investem em cortes rápidos fluem bem. O problema é quando tentam fazer planos
mais longos que se mostram sem ritmo e quebram totalmente com o que foi
proposto pelo roteiro, como numa perseguição de motos pelas escadarias no
começo do filme por exemplo. Direção de arte recria o ambiente com perfeição,
com destaque para as tomadas internas. A fotografia de Alexandre Ramos alterna
em alguns momentos entre tons frios e quentes de acordo com o que a cena pede,
porém a trilha sonora pouco acrescenta e até atrapalha a narrativa
desconstruindo a tensão necessária em algumas cenas.
A trama arrastada faz com
que o filme pareça ser mais longo que os seus cento e dez minutos. O roteiro
ainda insere muito tarde uma ex-mulher de Playboy, interpretada por Mariana
Nunes, que trabalha como faxineira na pizzaria e acaba refém dos policiais, mas
que não acrescenta muito à narrativa e que, na verdade, seria totalmente
dispensável se não fosse pelo papel que desempenha no desfecho do filme.
Alemão é um filme que tem suas virtudes, mas as suas falhas, a falta de
ritmo e a artificialidade o tornam apenas mais um filme ambientado numa favela
carioca e que, não demora, será esquecido do público.
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